Setenta e cinco anos depois de colidir com um iceberg e alojar-se a quatro mil metros de profundidade sobre o leito do mar, perto da Terra Nova, no Atlântico, o Titanic começa a revelar seus mistérios. Uma equipe de mergulhadores, comandada pelo oceanógrafo americano Robert Ballard, ajudada por uma tecnologia que só os tempos atuais poderiam proporcionar, resgatou uma série de objetos, cujo valor torna-se inestimável à medida que representa um corte brusco capaz de congelar a distante noite de 14 de abril de 1912, às 23:40h, quando o transatlântico, que se queria insubmersível, mergulhou nas profundezas do oceano em sua viagem inaugural. São estatuetas, talheres abandonados sobre as mesas em meio ao jantar, um relógio de bolso que assinala a hora fatal e todas aquelas pequenas coisas que acompanham as pessoas em viagens desse tipo. E se a abertura dos cofres do navio, transmitida pela televisão para todo o mundo, não revelou riquezas deslumbrantes, mostrou que os grandes desastres são essencialmente tragédias humanas. Dos 2.224 passageiros que estavam a bordo apenas 711 sobreviveram nos 16 barcos de salvamento, insuficientes para acomodar viajantes e tripulação. Num dos últimos mergulhos, um choque para Ballard: a cabeça de uma boneca de porcelana o encarava sorridente com seu pequeno e alvo rosto. O que teria acontecido com sua dona, certamente uma menina que pela primeira vez viajava de navio?
Revista Manchete - Especial 87
Número 1864 – Rio de Janeiro - 09/01/1988
Publicações Bloch
Texto retirado de uma revista de 20 anos atrás, que trazia uma reportagem contando sobre o resgate de artefatos do Titanic. A revista foi um presente do meu amigo e oficial Aislan Reis. O post de hoje é dedicado a ele, obrigado meu amigo, por essa raridade.