domingo, agosto 09, 2015

O JAPONÊS QUE SOBREVIVEU AO NAUFRÁGIO DO TITANIC



Masabumi Hosono era o único japonês à bordo do navio Titanic em 1912. Na época, ele tinha 41 anos, trabalhava como funcionário público no Japão e voltava de um longo período de trabalho na Rússia e Londres. Logo nas primeiras horas da manhã em 15 de abril, Hosono recebeu uma notícia alarmante: O navio em que estava havia se chocado com um Iceberg e a situação estava crítica, pra não dizer desesperadora.

O Titanic estava afundando. Além de ser estrangeiro, Hosono era passageiro da segunda classe e foi mandado para o térreo, bem longe dos botes salva-vidas. Mas em meio ao tumulto, ele chegou até o convés. Foi quando se deparou com um grande dilema que mudaria o rumo de sua vida: Um marinheiro avisava que ainda restavam dois lugares em um bote que já estava de partida e lotado de mulheres e crianças.

Um homem correu para ocupar um dos lugares, o que incentivou Hosono a fazer o mesmo. Neste momento tão dramático em sua vida, Hosono se angustiava ao pensar que nunca mais encontraria sua mulher e seus filhos que haviam ficado no Japão. Ele chegou inclusive a escrever uma carta para sua amada, intitulada como “On Board RMS Titanic”, assim que soube que a navio iria afundar.


Masabumi Hosono então, conseguiu se salvar do naufrágio do Titanic através do bote nº 13, um dos poucos botes salva-vidas do transatlântico. Por muitos, poderia ser considerado um herói, mas ao chegar no Japão, a história não foi bem assim. Aliás, pode-se dizer que a maior tragédia da sua vida não foi estar à bordo do Titanic e sim por ter sobrevivido ao naufrágio, um dos maiores da história.

No início, Hosono foi entrevistado por uma série de revistas e jornais, incluindo o jornal Yomiuri Shimbun, que publicou uma foto dele com sua família. Mas pouco tempo depois, passou a ser criticado e seu ato foi comparado à de Benjamin Guggenheim, um magnata que em um ato de cavalheirismo, preferiu vestir-se com o seu melhor traje de gala, e junto com seu fiel servo, esperou pela morte no bar do navio, ao invés de ocupar o lugar de uma mulher ou de uma criança em um bote salva-vidas.

Em 1912, as virtudes samurais, tais como honra, coragem, abnegação e sacrifício, eram muito mais evidentes que hoje em dia, e portanto, a sobrevivência de Hosono foi visto como um ato covarde. Para a sociedade japonesa da época, Hosono não fez nenhum feito digno de nota. Apenas sobreviveu… e aparentemente às custas de uma das centenas de vidas que não tiveram a mesma sorte.

Talvez isso tenha se agravado por Hosono pertencer a uma linhagem de samurais, que como sabemos são conhecidos por suas “mortes honrosas”. Ele foi demitido do emprego, passou a ser bombardeado com mensagens de ódio por seus próprios compatriotas e foi condenado ao ostracismo social.

Seu “ato de covardia” teria sido usado como exemplo nas escolas da época e sua própria filha em idade escolar teve que conviver com as calúnias voltadas ao seu pai. Hosono foi tornando-se um homem cada vez mais recluso e sempre discreto quando o assunto era sobre o Titanic. Talvez, o arrependimento e o desejo de tirar a própria vida tenha passado por sua mente diversas vezes.


Hosono e sua família passaram também por muitas dificuldades financeiras, uma vez que havia sido demitido do emprego. Porém, logo após o terremoto de Kanto no ano de 1923, Hosono foi convocado para trabalhar na rede ferroviária japonesa, já que era um profissional muito qualificado na área. E assim foi sua vida, até morrer por causas naturais em 1939, aos 68 anos de idade.

Hosono foi condenado pela sociedade japonesa por não ter priorizado o espírito nobre de um samurai. Era uma época em que o Japão se gabava do seu nacionalismo e se deslumbrava sobre suas vitórias sobre a China e a Rússia. A nação toda em geral queria exibir ao mundo não apenas sua capacidade militar como também seu senso de dever patriótico.

Aos olhos de muitos, Hosono não fez a lição de casa como deveria e pagou caro por isso. A história de Hosono permaneceu uma fonte de vergonha para sua família durante décadas, mas a reviravolta se deu com o lançamento do filme Titanic em 1997, quando finalmente o “poshumous pardon” foi concedido oficialmente pelo governo japonês, o que trouxe um grande alívio à família Hosono.

Por causa do filme, o interesse pela história de Hosono foi renovado e reavaliado. Passou a ganhar a simpatia das pessoas por começar a ser visto não como um covarde e sim, por ter colocado o amor que sentia por sua família acima de suas convicções sobre honra e códigos de conduta.

O neto de Hosono faz parte da banda japonesa Yellow Magic Orchestra e tem usado sua fama para recontar a história de seu avô. Em uma entrevista, Haruomi “Harry” Hosono mostrou o outro lado de seu avô: Um homem dedicado à família, cujo único desejo era rever a esposa e os seis filhos.

E você? O que achou da atitude de Masabumi Hosono? O que faria se estivesse no lugar dele diante de uma situação como essa? Tentaria salvar sua vida ou entregaria os pontos?



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