No dia 11/02/2007, o blog Titanic Momentos trazia com exclusividade outra entrevista com o nosso amigo e Titânico Rodrigo Piller. Desta vez o artista nato por natureza, contaria o processo de criação da sua primeira maquete do RMS Titanic. A entrevista na época foi dividida em 4 partes.
Neste mês de Abril, resolvi relembrar este momento mágico. Para quem ainda não leu, espero que todos gostem da matéria. Para os antigos, vai um momento de nostalgia.
“Mais vale a pena viver, ser chamado de louco e ser feliz fazendo-se o que ama do que entrar para as convenções que o mundo impõe e passar a vida inteira infeliz, com os olhos vendados para todo o esplendor que o mundo tem a oferecer. Viva e busque a felicidade nas menores coisas e nos maiores atos...”
Rodrigo Aparecido Piller
Olá amigos, desta vez estou de volta para contar-lhes como começou esta loucura toda e como foi que consegui fazer minha maquete do navio com 2 metros e 24 centímetros de comprimento.
A história vem desde quando eu era pequeno, pois desde essa época eu gostava de desenhar e fazer qualquer coisa de artesanato, sempre fui interessado nesse tipo de coisa e por isso às vezes digo que isso já nasceu comigo. Os anos passaram-se, eu cresci e então aos 11 anos em 1997 acontece o lançamento do filme Titanic, uma febre que dominou o mundo e que sem mais nem menos me pegou também. Assistia fascinado a todas as reportagens da TV e ficava interessadíssimo em tudo o que tinham a dizer sobre ele.
Não tive a oportunidade de assistir ao filme no cinema e então a primeira vez que o vi foi através de uma professora de inglês que levou o filme para o colégio e então pudemos assistir; foi loucura a primeira vista, nunca senti nada nem parecido com sensação que tive ao ver aquelas imagens, igualmente aconteceu com muitos a minha volta, tendo em vista que o filme foi algo hipnótico para o mundo todo.
Como eu era muito novo tudo não passou daí, eu não tinha vídeo para ver o filme novamente e tão pouco dinheiro para poder adquirir algo sobre ele. Sempre me lembrava do filme e sentia vontade de saber mais.
Os anos passaram-se e em 2002 foi lançada nas bancas, pela editora Salvat, a revista “Titanic - Sua História, Mistérios e Lenda”, com isso endoidei novamente. Pedi aos meus pais que me dessem a revista e que comprassem semanalmente, porém o preço era alto e eles não gostaram nem um pouco de minha idéia, principalmente porque briguei com eles. Com isso lembrei que minha prima tinha um pôster da época do lançamento do filme que contava sobre o naufrágio, então fui até a casa dela e pedi o pôster para mim e ela me deu. Esse foi o primeiro item de minha coleção.
Como meus pais não podiam me dar à revista, juntei dinheiro e comprei a primeira edição que saiu nas bancas, e, para minha surpresa na primeira veio um projeto parcial do navio, e a primeira peça para a montagem.
No começo de 2002 fiquei sabendo que no fim daquele ano teríamos uma feira de ciências no colégio e que a melhor dessas feiras ganharia prêmios e medalha. Fiquei muito animado, pois um ano antes eu tinha feito uma feira de ciências sobre múmias que tinha dado muito certo.
Comecei a conversar com uma amiga sobre o que poderíamos fazer, idéias foram surgindo, mas nenhuma nos interessou até que apareceu: Por que não fazemos sobre o Titanic?
Na mesma hora a idéia foi aceita. Idealizamos uma enorme maquete do navio que eu tentaria construir através do projeto que já tinha em mãos e no mesmo dia idealizamos muitas coisas. Estava armado nosso plano da feira. O resto daquele ano foi de intensa pesquisa para podermos encontrar toda a história do navio, contei muito com a colaboração de todos que realizaram a feira comigo.
Logo em seguida a isso (em março ou abril) comecei a fazer uma pequena maquete do navio (como teste) que não evoluiu, pois devido às pequenas dimensões não permitia que conseguisse trabalhar direito, ela tinha apenas 43 centímetros de comprimento.
Abandonei a idéia e logo em seguida parti para fazer uma em tamanho maior. A primeira que fiz tinha exatamente o mesmo tamanho do projeto em desenho que veio na revista porque eu não sabia como trabalhar direito com escala, porém sabia que se fosse construir outra maior teria de entender muito bem como transformaria pequenas medidas em dimensões corretas para uma grande maquete. Lembrei-me de ter feito em 2001 a maquete de minha casa e foi nessa maquete que aprendi por mim próprio como se faz para trabalhar com escala.
Tendo relembrado como se fazia, parti para fazer uma maquete com 107 cm, que serviria como base quando eu fosse construir a que usaríamos na feira de ciências. Mal comecei a fazer e desanimei da idéia porque não tinha detalhes o suficiente no projeto e ainda faltava bastante até a data da feira de ciências.
Quando essa data foi definida, 23/11/2002, nós começamos a levar a sério a idéia e retomei a construção da maquete, finalizando-a algum tempo antes e também começando a fazer os outros objetos que usaria na feira. Comprei os materiais e fiz desde cartazes até luminárias de parede que usaríamos para dar um clima mais interessante a nossa feira. Faltando cerca de duas semanas para a feira comecei a construção da maquete de 2 metros e 24 centímetros de comprimento do navio.
Resolvi usar papel para fazê-la, pois não tinha como trabalhar com algo mais resistente, usei então papel paraná, um tipo de papelão prensado que é bastante resistente.
Com o filme em mãos, para poder ver os objetos que o projeto não mostrava (principalmente todo o convés de proa e popa) comecei a medir e a cortar os papéis.
Fiz à base do convés C de proa a popa, embaixo dela fiz a estrutura de sustentação com papelão comum onde posteriormente adicionaria toda a lateral do casco do navio.
Montada essa estrutura fui fazendo os conveses superiores até chegar ao topo.
Fixei o casco todo e a parte que me deu mais trabalho no casco foi a popa, pois sua forma arredondada foi complicada de reproduzir; não fiz janelas no casco, pois achava desnecessário.
Na construção resolvi fazer apenas o lado de bombordo do navio porque para apresentá-lo no colégio ele ficaria paralelo a uma parede e as pessoas não veriam o lado de estibordo (o resultado disso é que fiz o lado contrario ao que Cameron fez em sua réplica para as gravações do filme).
Fui concluindo o trabalho e desenhando algumas janelas e portas aleatoriamente, pois não conhecia o navio direito. As janelas laterais eram todas desenhadas, pois achava que colocar luzes seria muito difícil.
Em seguida comecei e fazer uma série de três maquetes que representariam uma linha do tempo:
► Seria a maquete que já tinha feito no começo do ano que era o navio inteiro com um metro e sete centímetros e que eu usaria para mostrar o choque com o iceberg.
► Uma maquete na mesma escala da primeira, mas com o navio com um ângulo de 45 graus já sem os botes salva-vidas.
► Outra na mesma escala, mas mostrando apenas o fim da popa do navio que já estava acabando de afundar.
► Uma maquete em tamanho bem aumentado de um bote salva-vidas lotado de pessoas.
Ao terminar isso tudo (e depois de muito trabalho com lembranças, luminárias, textos de explicação, cartazes e tudo mais) fui um dia antes para o colégio montar a sala toda.
Escurecemos a sala com grossas cortinas, colamos os cartazes, colocamos tapetes e mais cortinas, as luminárias, instalamos um vídeo e uma TV e começamos a montar a mesa onde colocaríamos no dia seguinte a maquete grande e as pequenas.
No dia seguinte levei o restante dos objetos e a maquete grande, que teve de ser colocada em um suporte em cima de um carro, pois não cabia dentro. Estava garoando forte e a maquete chegou um tanto úmida, mas sem danos.
No meio do caminho um homem nos parou e queria saber se vendíamos a maquete do navio, a resposta foi não, pois sabia que antes de apresentar não podia me livrar dela.
Chegamos ao colégio e fomos finalizar.
Para simbolizar o oceano fiz um “mingau” bem encorpado de água, maisena e tinta azul e espalhei ao redor do navio e das outras maquetes, o resultado foi como se tivéssemos gasto uns 10 litros de gel para cabelo em tom azul.
Coloquei o iceberg ao lado da maquete menor em seguida a maquete dele em 45 graus, a terceira dele acabando de afundar e por último o bote lotado. Estava pronta a linha do tempo.
Era grande a expectativa e o nervosismo que se misturava com uma enorme alegria e emoção por estar fazendo algo que tanto amava.
As pessoas começaram a entrar aos poucos e conforme o tempo passava e a noticia se espalhava apareciam mais pessoas até o ponto da sala não suportar mais gente.
Todos me perguntavam como eu havia conseguido quanto havia demorado e tudo mais.
O filme estava passando na TV e muitos ficavam hipnotizados pelo clima que remetia à todos a uma história tão fascinante quanto triste. O rádio tocava a trilha do filme e o clima foi perfeito. Ao final da feira a sala lotou novamente e como não tínhamos como esvaziá-la tivemos que desligar a TV, pois ninguém queria sair de lá. Tudo finalizado a alegria era imensa, e pelos comentários o sucesso da feira era quase garantido.
Dias depois ficamos sabendo a resposta. Tínhamos ficado em 1º lugar! As premiações seriam logo em seguida, mas prêmio mesmo não veio; todos se revoltaram com isso, pois era promessa do colégio.
Eu mesmo fiquei indignado, porém o meu desejo maior era realizar a feira e isso eu já havia conseguido. Com os objetos em casa novamente arrumei uma cantinho para as maquetes e o restante eu guardei como deu. Não parei mais de procurar sobre o assunto e comecei a pensar em acrescentar mais coisas à minha maquete, colocar luzes e corrigir o que estava errado, foi o que fiz.
A primeira coisa que fiz algum tempo depois foi colocar luzes de pisca-pisca e trocar toda a lateral branca do navio substituindo por janelas vazadas e forradas com papel de seda para mostrar a claridade do interior; também fiz janelas no casco do navio e coloquei luzes dentro.
As reformas posteriores foram desde trocar o modelo dos guindastes por modelos mais parecidos à acrescentar 45 bancos de convés, 80 cadeiras de descanso, bandeiras decorativas, nova âncora e, por fim, acrescentar 80 pessoas andando pelos conveses (feitas com massa de biscuit).
A última coisa que fiz no navio foi abrir duas portas e fazer duas salas. A primeira porta fica no convés D (casco do navio) e é uma sala de estar com sofá, mesa, quadro, tapete e etc.. A segunda é no convés E, e mostra um salão mais simples com janelas, bancos, cadeiras, portas, tapete e quadros.
Esses dois lugares são tão minúsculos que não consigo fotografar com nitidez. Ao passar o tempo as maquetes pequenas estragaram-se muito. A de 107 cm foi reformada e vendida à uma amiga, a com o navio afundando foi totalmente reformada e dada a um primo que se interessou pelo assunto e as outras duas tive de jogar fora devido ao mal estado.
Em 2006 o navio grande já estava muito empoeirado (apesar de limpá-lo algumas vezes) então resolvi fechá-lo numa vitrine para que não se estragasse. O estopim de tudo foi quando uma criança chegou até ele e arrancou de uma só vez um dos botes salva-vidas com turco e tudo!
Arrumei madeira e madeirite e montei uma enorme caixa com 2 metros e 30 centímetros de comprimento, 61 centímetros de altura e 31 centímetros de profundidade.
Refiz o oceano e desta vez fiz de papel amassado, o qual pintei e fixei ao navio. Pintei o céu na paisagem de fundo, revesti toda a caixa com papel contact na cor de madeira e encomendei um vidro para fixar na frente da caixa.
Antes de colocá-lo na caixa ainda coloquei mais luzes e repintei toda a lateral do navio (casco), pois já estava desbotada.
Para que não desse problemas na hora de futuras manutenções tive de fazer a caixa com tampa e de modo que o vidro fosse móvel.
Dito e feito... Não passou muito tempo e aconteceu o primeiro problema: as luzes de pisca-pisca queimaram e tive de desmontar tudo para tentar resolver. Por sorte não foi muito difícil (como em vezes anteriores que aconteceu o mesmo). Na segunda vez que se queimaram (parcialmente) não foi tão fácil assim. Logo depois de desmontar e tentar resolver o problema vi que já não havia mais jeito, mas me conformei já que tinham passado-se mais de três anos sem que tivesse perca total nos frágeis e problemáticos pisca-pisca. Fechei tudo novamente e desisti de consertar.
Passado alguns dias comecei a pensar que seria um grande desperdício deixá-lo sem parte das luzes, então abri tudo novamente e fui colocar novas luzes para reforçar a iluminação. Depois de um dia inteiro de trabalho consegui o que queria: além de consertar o dano ainda pude deixá-lo mais iluminado que antes.
Se hoje em dia eu tentasse refazer o navio com certeza daria muito mais certo e ele ficaria muito mais bem feito. Digo isso, pois na época em que o construí nem o conhecia direito e as reformas apenas deram um aspecto melhor. O conhecimento que adquiri com tudo isso me faria melhorar e muito os resultados com uma nova maquete. Essa foi na verdade minha primeira aventura com relação ao Titanic, depois disso aconteceu que minha mania não parou de aumentar e junto com ela também aumentou mina coleção e aí veio o relógio da suíte de Rose em fevereiro de 2006, o relógio da grande escadaria em março do mesmo ano e meu mais novo trabalho que é a cadeira que concluí em janeiro de 2007.
A emoção e alegria que sinto em poder dividir algo que tanto amo com outras pessoas é algo indescritível. Minha vontade era de que todos que admiram essa mesma história tivessem a oportunidade de viver as mesmas alegrias que vivi até aqui. Acredito que essas pessoas tem algo de muito especial em seus corações que faz com que compreendam o que essa trágica história ensinou a toda humanidade.
Todos esses trabalhos podem ser vistos também em meu álbum do orkut e todos que se interessam sobre o assunto serão bem vindos...
Mais uma vez um abraço à todos...
Rodrigo Aparecido Piller
2 comentários:
que amor ao navio ele tem *__*
E quem diria, hoje, em 2016, Rodrigo concluiu e tem uma das mais fascinantes e perfeitas maquetes do mundo, tendo seu trabalho reconhecido em toda a TV nacional.
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