domingo, maio 15, 2011

A MISSÃO SECRETA – PARTE III


Ballard chegou ao Scorpion em julho de 1985 e encontrou uma cena similar à do Thresher: o submarino estava horrorosamente esmagado e os restos dispersos em uma longa faixa, como se fosse à cauda de um cometa. Nesse caso, o Scorpion estava partido em dois pedaços. Entretanto, não foram encontradas evidências de um ataque de torpedo. Novamente, parece que o Scorpion sofreu uma implosão ao descer abaixo de seu limite de profundidade; ou seja, arrebentou por não ser capaz de agüentar a tremenda pressão da água. Ninguém sabe como se chegou a essa situação. Thunman crê que isso talvez esteja relacionado com as tensões da guerra fria e o com grande nível de estresse de que sofria a tripulação e seu navio, mas não com uma causa externa.

Era um jogo arriscado que realizavam os submarinos da Otan e da URSS lá embaixo. Comandei um submarino na época, um gêmeo do Scorpion, o USS Snook. Era a Guerra Fria embaixo dos oceanos. “Tempos perigosos. Os russos praticavam a manobra Ivan Louco, como no cinema e nos livros de Tom Clancy. Era muito arriscado porque, de repente, com essa manobra, eles ficavam em cima de nós e havia alto risco de colisão. Sou amigo de Clancy e já conversamos sobre isso.”

Ballard localizou o reator do Scorpion, que, segundo ele, também não representa perigo, e assegura que os torpedos nucleares estão em um lugar seguro no interior do navio. E os tripulantes? Nos restos do K-129, foi fotografado o esqueleto de um marinheiro soviético com colete salva-vidas e casaco impermeável. Thunman demorou para responder. “Nós, submarinistas, somos como uma fraternidade, uma confraria subaquática: não gostamos de falar disso, as famílias ainda estão vivas e isso é muito doloroso para elas”.

O antigo oficial se surpreende quando quem assina essas linhas menciona o susto da claustrofobia, com uma voz angustiada. “Não, não sofremos disso, há todo um treinamento para vencê-la. Eu nunca vi nenhum claustrofóbico em um submarino.” O velho marinheiro parece sussurrar do outro lado da linha. Nessa madrugada de navios naufragados e tripulações afogadas, não me diga que sente nostalgia, vice-almirante. “É claro! Foi uma época grandiosa, os melhores dias da minha vida.” Thunman despede-se recordando que já teve sua base em Rota (Espanha) e dá uma mostra desconcertante de seu conhecimento de espanhol.

O mais surpreendente da história do Titanic, do Thresher e do Scorpion é que Ballard nunca teria encontrado o transatlântico, segundo ele mesmo diz, se não fosse pelas operações prévias nos dois submarinos nucleares. Depois de cumprir sua parte no pacto, ele tinha apenas duas semanas para dedicar-se à sua obsessão. Era uma missão quase impossível, dado tamanho da área a explorar. Mas Ballard teve uma revelação: “e se o Titanic tivesse se esmigalhado em partes como aconteceu com os dois submarinos e seus restos também tivessem sido espalhados pela correnteza em uma faixa extensa?”

Então ele começou a procurar não pelo barco, mas sim pelo seu rastro, o que permitiu abarcar áreas muito maiores de busca do que a do simples casco, percorrendo linhas separadas entre si por 1,5 quilômetro, e acabou o encontrando em Primeiro de Setembro de 1985.

Fonte: National Geographic

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