sábado, abril 29, 2006

COMO ESCOLHER UM TRANSATLÂNTICO

A escolha de um transatlântico para uma travessia de um continente a outro podia depender do lugar de onde o navio zarpava e de seu ponto de destino. Halifax ou Nova York, Liverpool ou Southampton, Queenstown ou Plymouth eram cidades que os diretores de todas as companhias levavam em consideração, devido à afluência de passageiros e às comunicações via terrestre com os grandes centros urbanos. A data do bota-fora e as dimensões do navio eram elementos determinantes para aquele passageiro especialmente preocupado, que exigia a máxima segurança. A geometria da construção dos navios tampouco era indiferente, já que, no entendimento dos emigrantes pouco cultos, o número de chaminés era proporcional à segurança oferecida em mar pelo navio.
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No Titanic, a falsa quarta chaminé não tinha função alguma, senão a estética; ela não servia para expelir os gases produzidos pela combustão. Seu papel era aumentar o impacto produzido pelo navio, tornando-o ainda mais gigantesco. A nacionalidade do transatlântico era outro fator a ser levado em conta. O prestígio oriundo da corrida de velocidade no oceano era tão alto, que não pertencia apenas à companhia proprietária do transatlântico, mas também ao governo do país de origem do navio. A competição se iniciava nas mesas dos desenhistas e se alimentava de sentimentos patrióticos, pois a honra e o orgulho da nação estavam em jogo e era preciso fazer qualquer coisa para que a empresa triunfasse, pois ela encheria o país de glórias.
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A velocidade e as novidades tecnológicas a bordo eram requisitos fundamentais, mas não suficientes, para garantir a fidelidade de determinada clientela. O serviço devia oferecer “algo mais”, capaz de favorecer certa companhia em detrimento de outra. Nesse sentido, os britânicos estavam indiscutivelmente mais adiantados do que os demais, e refletiam fielmente a rígida hierarquia social, imune às grandes mudanças e adepta da severa disciplina marítima. Era precisamente por esse motivo, que a White Star Line merecia possuir sua “Faixa Azul”. O comportamento do pessoal do Titanic era exemplar e se aliava à gentileza, à educação e ao respeito por todos os passageiros.
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Não era fruto de improvisações, pois tratava-se de uma arte cultivada em navios pertencentes à gerações de naus anteriores ao Olympic e baseada no compromisso de todo o pessoal, desde o simples camareiro ao capitão. A delicadeza de um simples gesto de dobrar as mantas para um passageiro que estivesse deitado, descansando em uma poltrona do convés social devia fazer com que ele se sentisse protegido e sob bons cuidados. Servido no camarote, o café da manhã respeitava a privacidade dos passageiros, que não precisavam ir até o refeitório e podiam desfrutar de uma atmosfera íntima. Todas essas atenções eram o motivo da fidelidade dos passageiros à companhia. Depois de completar uma travessia, os viajantes estabeleciam verdadeiros laços de amizade com o pessoal de bordo que, justamente por essa razão, era mantido pela companhia sempre no mesmo navio. Era comum, por exemplo, que o passageiro não precisasse pedir nada ao sentar-se junto a uma mesa, pois sua bebida preferida lhe era servida com a mesma discreta e constante atenção. O esplendor dos salões, o conforto das suítes e a elegância da decoração eram constantes na especial qualidade do serviço.
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O espaço a bordo de um navio era o símbolo evidente do grau de poder daquele que o freqüentaria. As posses de uma determinada classe social eram definidas em função do lugar que lhe era designado. Na primeira classe do Titanic, a sala usada pelos passageiros para se refrescarem depois do banho turco era duas vezes e meia maior que o refeitório da segunda classe. A cúspide era o lugar reservado ao capitão do navio, o “único senhor depois de Deus”. Receber um convite para jantar ao seu lado era um privilégio de poucos e o sonho de muitos. O prestígio do comandante era um dos motivos essenciais na escolha entre uma e outra nau. Além dos conhecimentos e da competência técnica essenciais ao exercício de sua autoridade, o capitão devia possuir um grande “savoir faire” e a capacidade de comunicação própria de um homem do mundo civilizado. Devia também ser capaz de cumprir com suas obrigações de comandante do mesmo modo com que atendia às exigências e frivolidades de seus ilustres hóspedes. Se corresse a notícia de que o príncipe de Gales viajaria a bordo de determinado transatlântico, seguramente não seria possível encontrar um lugar disponível nele. A travessia era um momento único no que diz respeito às relações pessoais, uma oportunidade para encontrar pessoas interessantes, como atores de teatro, novos-ricos americanos, atletas famosos, personalidades do mundo literário, um marajá hindu ou membros da Coroa inglesa. Uma das primeiras expectativas depois do embarque era a leitura da lista de passageiros, feita discretamente por um funcionário por detrás das portas dos camarotes.

Um comentário:

Anônimo disse...

nossa, devia ser um briga entre a cunard e white star. pra mim vale a white star, a "nunmber one", hehehe.
bjs lindu post.