Depoimento juramentado e por escrito, de Alfred Omont, explicando como escapou do naufrágio. Corretor de algodão, estabelecido em Lê Havre, ele embarcara em Cherbourg, tendo sido resgatado pelo Carpathia, a bordo do qual chegou à Nova York.
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Alfred Fernand Omont testemunhou sob juramento o que se segue:
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Sou corretor de algodão, no Havre. Embarquei no Titanic, em Cherbourg, no dia 10 de abril, como passageiro de primeira classe. Tivemos bom tempo durante todo o percurso, até a hora do desastre.
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No domingo, 14 de abril, não houve exercício com escaleres – estou praticamente certo disso.
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O capitão permaneceu no Salão de Jantar, na hora da refeição noturna. Logo depois, a orquestra apareceu na escada da escotilha, e o capitão também estava lá. Isso foi no convés “D”. O convés “A” ficava bem abaixo do convés superior. O senhor marechal me disse que o capitão estava num grupo e parecia muito feliz e confiante em seu barco. Então, saímos e fomos jogar bridge no Café Parisien. Jogamos até cerca de 23:40, quando sentimos um choque. Já cruzei o Atlântico treze vezes e posso afirmar que o baque não foi dos grandes; cheguei a supor que teria sido causado por uma onda. Passados alguns minutos, pedi ao garçom para abrir a vigia, o que ele fez, mas nada vimos. No momento do choque, percebemos algo branco, através das escotilhas, e água. Mas pela portinhola baixada pelo garçom só enxergamos a noite clara.
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Cerca de um minuto depois, deixamos o café. O marechal e eu guardamos os baralhos - dispunha-me a procurar novos parceiros - e esperamos bastante tempo; todos diziam que não estava acontecendo nada. Por volta de 0:30, vimos o capitão e o imediato subindo em direção à ponte de comando. Cerca de cinqüenta a sessenta mulheres e homens ficaram numa expectativa ansiosa, para saber o que estava ocorrendo. O capitão desceu, sempre acompanhado pelo imediato. Mascando um palito, ele disse: "É melhor colocarem seus coletes salva-vidas, apenas por precaução. "Então, desci até a minha cabine, poucos andares abaixo, e vesti o salva-vidas. Retomando ao convés dos botes, constatei que o tempo estava mortalmente frio. Voltei à cabine, tirei o salva-vidas e enverguei um capote. Subi de novo até o convés dos botes, e recoloquei o salva-vidas. Vi que desciam alguns escaleres. O imediato me viu e perguntou se eu queria entrar. Alguns dos passageiros gritaram, dizendo que não fizesse isso, pois tinham confiança no navio. Vi que o mar estava muito calmo e, de cabeça fria, considerei melhor pular no bote e ver o que aconteceria. Tive de saltar uns dois ou três metros para alcançar o escaler. A bordo, éramos vinte e nove pessoas, e a embarcação não suportaria mais de trinta. Pensei e disse que a idéia de colocar sessenta pessoas num bote, ou numa balsa, seria ridícula. Tenho comigo uma foto que prova isso. Considero uma monstruosidade dizer que sessenta pessoas caberiam num bote daqueles, em segurança.
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Quando estávamos sendo baixados, de uma altura de cerca de cem metros, quase viramos, por causa de uma corda muito mais curta que as demais. Enfim, descemos e tocamos a água. Foi difícil soltar o escaler do navio, e fomos obrigados a cortar as amarras.
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Já na água, começamos a remar para longe. Havia 22 mulheres a bordo. O marechal, meu amigo, estava a meu lado, mas só o reconheci de manhã. Remamos cerca de 120 metros. Vimos o navio afundar lentamente - inclinando se para estibordo.
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O escaler não tinha luz, bússola nem mapa, apenas um pequeno barril de água e, segundo alguém informou, uma pequena caixa de biscoitos. Depois que o navio foi a pique e mesmo antes, vimos uma luz muito longe, a cerca de seis ou oito quilômetros. Todos imaginaram que fosse outro navio - um veleiro ou um vapor. A embarcação apareceu aos nossos olhos com absoluta nitidez, e nos animamos, antecipando o salvamento; mas, aos poucos, o barco desapareceu.
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Talvez se tratasse de um veleiro, cujas manobras teriam sido dificultadas em virtude da calmaria, ou de uma ilusão de ótica de nossa parte. Esperamos até a aurora: então, o Carpathia apareceu. Fomos regiamente tratados a bordo, e qualquer homem que tenha sido salvo por aquele navio há de guardar sempre na lembrança as fisionomias do capitão e dos oficiais. Sei, por experiência própria, o quanto o capitão do Carpathia se empenhou para salvar o Titanic.
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Um dos marinheiros responsáveis pela vigilância noturna estava em nosso escaler. Ele nos disse que vira o iceberg cerca de três minutos antes do choque. Não sou marujo, mas se assim foi, devemos considerar que o navio seguia a 37 quilômetros por hora, pelo menos, o que permitiria uma visão do obstáculo - e o alarme - a quase 1,5 quilômetro de distância.
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Como passageiro, considero que duas pessoas sabiam da existência de icebergs ao nosso redor - o presidente companhia e o capitão. Pergunto: como é que nenhum dos dois se pronunciou, em nome da segurança dos passageiros? Nós, passageiros, confiamos nossa segurança ao capitão e temos o direito de saber que nossas vidas estão resguardadas, em vez de serem arriscadas em proveito de companhias interessadas em recordes de velocidade.
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Depois do desastre, o capitão e os oficiais comportaram-se como cavalheiros.
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Jurado pelo dito Alfred Fernand Omont
na presença de James Walsh.
Vice-cônsul britânico
Havre
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Alfred Fernand Omont testemunhou sob juramento o que se segue:
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Sou corretor de algodão, no Havre. Embarquei no Titanic, em Cherbourg, no dia 10 de abril, como passageiro de primeira classe. Tivemos bom tempo durante todo o percurso, até a hora do desastre.
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No domingo, 14 de abril, não houve exercício com escaleres – estou praticamente certo disso.
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O capitão permaneceu no Salão de Jantar, na hora da refeição noturna. Logo depois, a orquestra apareceu na escada da escotilha, e o capitão também estava lá. Isso foi no convés “D”. O convés “A” ficava bem abaixo do convés superior. O senhor marechal me disse que o capitão estava num grupo e parecia muito feliz e confiante em seu barco. Então, saímos e fomos jogar bridge no Café Parisien. Jogamos até cerca de 23:40, quando sentimos um choque. Já cruzei o Atlântico treze vezes e posso afirmar que o baque não foi dos grandes; cheguei a supor que teria sido causado por uma onda. Passados alguns minutos, pedi ao garçom para abrir a vigia, o que ele fez, mas nada vimos. No momento do choque, percebemos algo branco, através das escotilhas, e água. Mas pela portinhola baixada pelo garçom só enxergamos a noite clara.
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Cerca de um minuto depois, deixamos o café. O marechal e eu guardamos os baralhos - dispunha-me a procurar novos parceiros - e esperamos bastante tempo; todos diziam que não estava acontecendo nada. Por volta de 0:30, vimos o capitão e o imediato subindo em direção à ponte de comando. Cerca de cinqüenta a sessenta mulheres e homens ficaram numa expectativa ansiosa, para saber o que estava ocorrendo. O capitão desceu, sempre acompanhado pelo imediato. Mascando um palito, ele disse: "É melhor colocarem seus coletes salva-vidas, apenas por precaução. "Então, desci até a minha cabine, poucos andares abaixo, e vesti o salva-vidas. Retomando ao convés dos botes, constatei que o tempo estava mortalmente frio. Voltei à cabine, tirei o salva-vidas e enverguei um capote. Subi de novo até o convés dos botes, e recoloquei o salva-vidas. Vi que desciam alguns escaleres. O imediato me viu e perguntou se eu queria entrar. Alguns dos passageiros gritaram, dizendo que não fizesse isso, pois tinham confiança no navio. Vi que o mar estava muito calmo e, de cabeça fria, considerei melhor pular no bote e ver o que aconteceria. Tive de saltar uns dois ou três metros para alcançar o escaler. A bordo, éramos vinte e nove pessoas, e a embarcação não suportaria mais de trinta. Pensei e disse que a idéia de colocar sessenta pessoas num bote, ou numa balsa, seria ridícula. Tenho comigo uma foto que prova isso. Considero uma monstruosidade dizer que sessenta pessoas caberiam num bote daqueles, em segurança.
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Quando estávamos sendo baixados, de uma altura de cerca de cem metros, quase viramos, por causa de uma corda muito mais curta que as demais. Enfim, descemos e tocamos a água. Foi difícil soltar o escaler do navio, e fomos obrigados a cortar as amarras.
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Já na água, começamos a remar para longe. Havia 22 mulheres a bordo. O marechal, meu amigo, estava a meu lado, mas só o reconheci de manhã. Remamos cerca de 120 metros. Vimos o navio afundar lentamente - inclinando se para estibordo.
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O escaler não tinha luz, bússola nem mapa, apenas um pequeno barril de água e, segundo alguém informou, uma pequena caixa de biscoitos. Depois que o navio foi a pique e mesmo antes, vimos uma luz muito longe, a cerca de seis ou oito quilômetros. Todos imaginaram que fosse outro navio - um veleiro ou um vapor. A embarcação apareceu aos nossos olhos com absoluta nitidez, e nos animamos, antecipando o salvamento; mas, aos poucos, o barco desapareceu.
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Talvez se tratasse de um veleiro, cujas manobras teriam sido dificultadas em virtude da calmaria, ou de uma ilusão de ótica de nossa parte. Esperamos até a aurora: então, o Carpathia apareceu. Fomos regiamente tratados a bordo, e qualquer homem que tenha sido salvo por aquele navio há de guardar sempre na lembrança as fisionomias do capitão e dos oficiais. Sei, por experiência própria, o quanto o capitão do Carpathia se empenhou para salvar o Titanic.
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Um dos marinheiros responsáveis pela vigilância noturna estava em nosso escaler. Ele nos disse que vira o iceberg cerca de três minutos antes do choque. Não sou marujo, mas se assim foi, devemos considerar que o navio seguia a 37 quilômetros por hora, pelo menos, o que permitiria uma visão do obstáculo - e o alarme - a quase 1,5 quilômetro de distância.
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Como passageiro, considero que duas pessoas sabiam da existência de icebergs ao nosso redor - o presidente companhia e o capitão. Pergunto: como é que nenhum dos dois se pronunciou, em nome da segurança dos passageiros? Nós, passageiros, confiamos nossa segurança ao capitão e temos o direito de saber que nossas vidas estão resguardadas, em vez de serem arriscadas em proveito de companhias interessadas em recordes de velocidade.
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Depois do desastre, o capitão e os oficiais comportaram-se como cavalheiros.
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Jurado pelo dito Alfred Fernand Omont
na presença de James Walsh.
Vice-cônsul britânico
Havre
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O Post de hoje é dedicado a três grandes novos amigos
André Felipe, Daniel Dias e Vinicius Amstalden
5 comentários:
nossa adorei essa historia , ate parece que eu estou la quando leio é muito emocionante e triste, adorei mesmo hehehh xau desculpa ai o tempao sem comentar!!!
legal...
foi ele q recebeu uma carta depois ,de um amigo falando que ele foi um covarde?
oI ALENCAR...
ADORO TESTEMUNHOS...
PARABÉNS PELO BELO BLOG...
BEIJOS
=]
=***
Não tinha ainda conhecimento desse testemunho, muito iteressante por sinal, parabéns.
Nossa, ler esse depoimento ao som deste piano é lindo demais.
Muito lindo, lindo....
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