Britannic Homenagem de Ryan Hill
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BRITANNIC
por Violet Jessop
Estávamos celebrando as festividades de Nossa Senhora em 21 de novembro de 1916. O sol banhava as janelas do salão-de-estar, do lado oposto aos semblantes das figuras de oficiais e homens ajoelhados durante a missa naquela manhã - manipulando seus rosários de miçangas.
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O padre, um homem alto, cuja face lembrava um despenhadeiro cheio de pedras ásperas. Seus olhos eram semelhantes aos das crianças, cheios de humor, dando-nos a todo tempo a impressão que pediam ao mundo para ser amável; porém, a timidez do seu dono o impedia e pedir qualquer coisa. Agora chegara o momento de ele enviar sua mensagem à congregação. À medida que elevava o sotaque irlandês, podíamos ver através do nosso inconsciente arrebatado, que este homem sabia exatamente como alcançar o lado do coração das pessoas simples e humanas. O padre passara muitos meses nas trincheiras e havia rumores de que gostaria de retomar.
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Assim que a missa terminou, todos saíram entre risos e alegria na sua presença. Os homens o adotaram como seu amigo e conselheiro. Era a pessoa mais popular do navio exceto para o major Priestley. O major - uma figura modesta, de poucas palavras, que estava sempre de braços abertos para ouvir qualquer um - havia escapado e ajudado a muitos outros fugirem da famosa prisão de Ruhleban. Era um verdadeiro herói para a tropa.
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Todos desceram as escadas para o café da manhã, conversando e contando piadas, pois esta hora era a mais alegre e esperada a bordo. A animação que emanava de todos encaixava-se plenamente com o árduo trabalho que nos aguardava - àquela tarde embarcariam os feridos em Moúdros - e todos sabíamos disso claramente. A zombaria predominava até na mesa do austero oficial comandante – percebi quando passei pelo salão levando o café para uma freira doente de quem cuidava.
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Subitamente, ouvimos um ruído ensurdecedor. O Britannic deu uma sacudida - uma longa vibração da popa à proa -, derrubando toda a louça sobre as mesas, quebrando objetos até que adquiriu o equilíbrio vagarosamente, e continuou sua jornada. Todos sabíamos que fora atingido.
Britannic Homenagem de Ryan Hill
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O salão inteiro colocou-se de pé, como se apenas um homem estivesse ali. Em pouco tempo médicos e enfermeiras desapareceram em direção aos seus postos. A copa, onde eu me encontrava segurando um bule de chá em uma mão e uma porção de manteiga na outra, estava livre, pois os homens largaram tudo o que tinham nas mãos pulando sobre as prensas com a agilidade de um gamo. Em segundos não se via uma só alma, nem se ouvia qualquer som.
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Isso contrastava, radicalmente, com as lembranças que guardava do destino do Titanic - um passado não muito distante. O breve período de calmaria com o qual nos deparamos, inesperadamente, deixou em mim uma impressão que passou a fazer parte da minha vida, de forma marcante. Mas agora era diferente. A guerra com todos os seus horrores antecipados e possibilidades medonhas, preencheram a imaginação daqueles que a temiam e ainda não previam o perigo. Fascinada, observei o movimento ao meu redor.
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Manuscritos de Violet Jessop, tripulante sobrevivente dos naufrágios do Titanic e Britannic e tripulante presente no acidente do Olympic com o Hawke
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Sobrevivente do Titanic, Ed. Brasil Tropical, págs. 228-229. Introdução, Edição e Comentários John Maxtone-Graham
Um comentário:
Oi Alencar...Muito legal suas homenagens ao Britannic...Você tem uma grande sensibilidade...
PARABÈNS...Obrigada pelas visitas.
BEIJOS
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