sábado, novembro 26, 2005

AS PRIMEIRAS DÚVIDAS – PARTE II

Ainda em Queenstown, registrou-se outro pequeno episódio, que suscitou animadas conversas e certa preocupação entre os passageiros mais impressionáveis. Usando as escadas internas da quarta chaminé, outro fogueiro subira até o ponto mais alto do cilindro maior que, na verdade, não participava da eliminação da fumaça expelida pela casa de máquinas. A chaminé da popa, a última das quatro, era uma chaminé falsa: de acordo com os parâmetros estéticos da época, sua função era contribuir para aumentar a grandeza da nau, sendo apenas usada na ventilação dos ambientes internos. O fogueiro a escalou para se divertir, porque talvez precisasse respirar um pouco de ar fresco, ou ainda por puro exibicionismo; o certo, porém, é que a brusca aparição de seu rosto empretecido pela fuligem no alto da chaminé provocou sonoras gargalhadas entre alguns espectadores, ao passo que outros, mais temerosos, pensaram ter visto a materialização de um ser infernal, surgido das entranhas do navio, cuja missão era fazer-lhes lembrar que por trás de todo aquele luxo e segurança, acenavam-lhes forças desconhecidas e ameaçadoras. Seja qual fosse o motivo daquela curiosa escalada até a boca da chaminé, o incidente alimentou os falatórios sobre a estranheza do Titanic. Inclusive Henry Tingle Wilde, um dos primeiros-oficiais, em uma carta escrita a sua irmã, dizia que o navio não lhe agradava e que lhe causava uma estranha sensação.
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O que pensar então, da falta de binóculos no posto do vigia?
Foi um imperdoável esquecimento, ou uma tentativa de sabotagem?
Por que Ismay se encontrou em seu camarote com o primeiro - oficial da casa das máquinas, como se desejasse agir sem o conhecimento do capitão?
Devemos considerar o Titanic como uma representação da eterna tentação humana de superar os limites impostos pela natureza?
Por que escolheram aquele nome para o transatlântico? Reexaminando as páginas da mitologia, surge espontaneamente uma relação com o ocorrido no oceano na noite do dia 14 de abril daquele ano.
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FOTO: Em seus amplos porões, o transatlântico transportava milhares de cartas, muitas delas dirigidas aos emigrantes irlandeses que viviam nos Estados Unidos. Apenas em Queenstown foram embarcadas mais de 1.300 sacos de correspondência.

Um comentário:

Anônimo disse...

OI Alencar...Amei o post...Você busca as informações a fundo mesmo.
Muito show...Adorei os e-mails...
Que monte...AMEI...
Valeu mesmo...
Bom fim de semana.
BEIJOS